O chamado Álbum Azul (oficialmente, The Beatles 1967–1970) é um retrato fiel de uma época dos Beatles que não é fácil de definir. Parte do seu legado está em estabelecer uma experiência contínua e coerente, como um romance ou um filme, com obras de indiscutível qualidade e inovação musical. Não se trata apenas de uma mera coletânea de músicas do quarteto de Liverpool. Faixas como “A Day In the Life” e “While My Guitar Gently Weeps” estão lado a lado de músicas como “Don’t Let Me Down”, “The Ballad of John and Yoko” e “Hey Jude”, obras do período final da banda que não entraram em álbuns de estúdio. Esta edição de The Beatles 1967–1970 também inclui “Now and Then”, a derradeira música do grupo, em que Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison começaram a trabalhar em 1995 a partir de uma demo de John Lennon do final dos anos 70. Paul e Ringo finalizaram a música em 2022, com uma pequena ajuda do amigo Peter Jackson, diretor do documentário The Beatles: Get Back (2021). O Álbum Azul (e também o Álbum Vermelho, 1962–1966) funciona como uma boa introdução para entender a importância dos Beatles e as mudanças culturais que a banda provocou. Ali, o pop inocente se encontra com o underground psicodélico (“I Am the Walrus”) e a balada de rock se aproxima do heavy metal (“While My Guitar Gently Weeps”), enquanto o idealismo do final dos anos 60 (“All You Need Is Love”) encara a dura realidade que veio depois (“Get Back”, “Revolution”). Poucas bandas conseguiram resumir tão bem esse período histórico como os Beatles.