DEMIDEVIL

DEMIDEVIL

Para Ashnikko, o título de sua mixtape de estreia, DEMIDEVIL, representa o que ela chama de “dualidade”. “Existe esse lado que é um pouco mais vulnerável e humano, e tem o lado diabólico, que é durão e não liga para nada. É uma confiança e uma tristeza – não consigo lidar com isso”, explica a rapper e cantora ao Apple Music. Esse é um belo jeito de resumir o que esperar das 10 músicas do trabalho. Há toda a invencibilidade vista nos hits que viralizaram e transformaram Ashnikko em uma nova e provocativa força do pop, do extasiante sucesso de “STUPID” no TikTok até a igualmente inesquecível “Daisy”. Ainda assim, diante de toda essa fusão delirante de gêneros como pop, punk e rap, a artista nascida na Carolina do Norte abraça a melancolia e se permite uma vulnerabilidade pela primeira vez em suas músicas. “A personagem que criei para ser a protagonista da minha música é muito forte e segura. Com essas músicas, estou mais confiante também”, analisa Ashnikko, cujo nome verdadeiro é Ashton Nicole Casey. “Mas é impossível sustentar isso sem mentir para si mesmo. Como qualquer ser humano, tenho falhas e gosto de chorar.” Mas não ache que a energia empoderada, sem filtros e de sexualidade livre da artista tenha diminuído. Em DEMIDEVIL, ela segue advertindo homens tóxicos e aqueles que ainda não aprenderam a lidar com o corpo de uma mulher (como é o caso da hilária “Clitoris! The Musical”). A artista faz tudo isso enquanto tem a defesa do prazer feminino como sua principal missão ou, como ela mesma diz, para criar o “oposto do olhar misógino masculino”. Prepare-se, porque Ashnikko nos levará para uma jornada por cada uma das faixas de DEMIDEVIL. Daisy “Quando eu e [o produtor britânico] Thomas Slinger escrevemos essa música, pensamos: ‘Essa música é um estouro. É um hit’. E raramente sinto isso com a minha música. Gosto também de ter algo visual para acompanhar a letra da música, tipo um personagem que vou desenvolvendo. Neste caso, tenho a Daisy, que é uma justiceira que veste látex, diamantes azuis e botas de plataforma de gelo. Ela destrói o patriarcado e mata esses homens terríveis – tipo esses caras inspirados pelo Trump nos Estados Unidos. Ela é uma personagem incrível e sempre deixa uma margarida ao ir embora, como uma marca registrada.” Toxic “Sendo uma mulher na indústria da música, encontrei muitos homens tóxicos pelo caminho. Sempre acho muito problemático quando as pessoas, especialmente os homens, pensam: ‘Eu fiz você quem você é’. E, na realidade, é o contrário: ‘Na verdade, trabalhei muito e você me ajudou com muitas coisas, mas eu que fiz essas músicas.’ O homem anônimo sobre o qual falo aqui sabe que essa música é para ele – e ele deveria se sentir péssimo por isso. Existem músicas que são muito catárticas e essa é uma delas, definitivamente. É meu hino empoderador, é por isso que a linha de baixo é extremamente pesada. Queria que soasse como se fosse um porrada na cara.” Deal With It (feat. Kelis) “‘Caught Out There’, da Kelis, é uma das minhas músicas favoritas e fico muito feliz de ter conseguido a liberação e que ela quis ter o nome dela ao lado do meu. É a minha música de separação – não existiria um projeto da Ashnikko sem uma faixa como esta. É uma música sobre escolher a si mesma, porque essa é a melhor maneira de superar um término. Compre novos brinquedos sexuais, invista em você, aprenda algo novo, corte todo o seu cabelo se quiser. Viva seus sonhos, baby. Essa é uma música bem pop. Sou uma garota pop, afinal, e era importante que esse meu lado fosse colocado na mixtape também.” Slumber Party (feat. Princess Nokia) “Amo Princess Nokia e a escuto desde que começou a lançar músicas como Wavy Spice. Ela tem uma personalidade tão própria, realmente amo isso. Tem um elemento nesta música que brinca com a turma lésbica da música pop, a turma de ‘I Kissed a Girl’. Meio que tiro um pouco de sarro no refrão, e depois inverto as coisas nos versos. É uma música sobre uma garota que me magoou. Sempre me envolvo em relacionamentos complicados com mulheres comprometidas. A letra diz: ‘She looks like the type to break it’ [‘Ela parece ser do tipo que me machucaria’]. Sou muito confiante, mas sempre acabo com o meu coração partido.” Drunk With My Friends "Tive alguns meses bem selvagens, indo a várias festas tecno, dando beijos triplos em várias pessoas. Cheguei a gastar todo o dinheiro do meu aluguel em comprimidos. Bom, eu estava em Berlim na época, então você pode me culpar por isso? Não faço mais essas coisas porque não posso usar drogas – tenho uma mente que está naturalmente à beira de um precipício do desastre todos os dias – então, tenho que curtir sóbria. Escrevi essa música com [o produtor que mora em Londres] Oscar Scheller, um dos meus melhores amigos. Me diverti muito compondo essa música.” Little Boy “Na época estava lidando com homens muito tóxicos da indústria da música e alguns garotos tóxicos na minha vida. Estava exausta disso: ‘Cansei, não me trate mais assim que não vou mais aceitar isso’. Estava entendo quais eram os limites. Há uma melancolia aqui, com certeza, e uma decepção verdadeira com os homens. Não é uma música que diz coisas como ‘vai se f****, é mais um pedido: ‘pare de descarregar seu trauma emocional em mim e pague por terapia’. É muito importante para mim que as pessoas entendam que não sou completamente segura.” Cry (feat. Grimes) “O contexto dessa música é de quando vivi um momento triste aos 19 anos. Minha melhor amiga e meu namorado se pegaram sem que eu soubesse. Tinha acabado de me mudar para Londres e eles dois eram a minha única família. Estava tão triste – muito mais com ela, que era a minha melhor amiga e existe um código de amizade que não pode ser quebrado. Sobre o meu namorado, eu pensava: ‘Você é um idiota, mas meio que isso era de se esperar’. Reconheço que essa é uma forma problemática de lidar com isso, mas eu estava com tanta raiva dela, que achei que a gente brigaria fisicamente. Estava devastada. Grimes é uma inspiração enorme para mim. Quando vi que ela me seguiu no Instagram, pedi na hora: ‘Por favor, faz uma participação nessa música, amo tanto você’. E ela aceitou! Tudo aconteceu no Instagram.” L8r Boi “Quando eu era mais jovem, achava que Avril Lavigne era uma garota poderosa. Sabia que eu queria mexer em uma música da Avril e, quando vi os versos de ‘Sk8er Boi’, pensei: ‘Amo Avril, amo tudo sobre ela, mas essa letra é problemática!’ Basicamente, é uma música que fala: ‘Essa garota que se f***, ela não valoriza meu homem. Ela que se dane por gostar de balé’. Queria atualizar um pouco essa história e fazer uma música sobre ela não querer estar com esse garoto skatista. Ele não é o objeto de desejo dessa música, apesar de ser na original.” Good While It Lasted “Essa é a minha música séria. É uma reflexão sobre um relacionamento e sobre estar tipo: ‘Sei que talvez ambos tenhamos agido de forma imatura e talvez eu tenha mais culpa do que pensava’. Acho que tem uma abordagem mais madura. O primeiro verso é a minha parte favorita da música. Escrevi num dia em que eu estava me sentindo realmente triste e quebrada, então, veio de um lugar muito real para mim. É uma música extremamente crua e senti que precisava estar na mixtape porque significava muito para mim. Todas as minhas músicas são uma sessão de terapia. Estou basicamente levando todo mundo para uma sessão bem pública de terapia.” Clitoris! The Musical” “Colocar essa música na sequência de ‘Good While It Lasted’ é uma espécie de brincadeira minha. Porque eu não consigo ser séria. É tipo: ‘Sou séria, sou vulnerável, só que não!’. Essa música foi uma esquete que escrevi para o meu canal de YouTube, na qual estaria vestida como uma vagina e o meu rosto era o clitóris. Achei hilário. Escrevi muitas músicas sobre as jornadas dos homens cis e héteros para encontrar o clitóris, porque, por algum motivo, parece ser um lugar misterioso e difícil de achar. Essa música é minha brincadeira de educação sexual. Só estou tentando passar adiante o que eu aprendi.”

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