O Encontro

O Encontro

Após dez anos sem tocar juntos, Davi Sacer e Trazendo a Arca se reuniram novamente. Dessa reunião realizada no dia 2 de maio, feita para uma live gravada na Igreja Batista Atitude, no Rio de Janeiro, nasceu o álbum “O Encontro”, que traz 15 canções que marcaram época e ainda ocupam um lugar especial no coração dos fãs. Participaram da live Ronald Fonseca (produtor), Isaac Ramos (guitarrista), André Mattos (bateria), Luiz Arcanjo (vocal), Davi Sacer (vocal), Verônica Sacer (vocal) e Deco Rodrigues (baixista). “Foi muito emocionante para nós, tanto para mim, quanto para minha esposa, Verônica, até para o Ronald também, que era o tecladista na época do Trazendo a Arca”, conta Davi Sacer ao Apple Music, que deixou o Trazendo a Arca em 2010, para se dedicar a carreira solo. “Foi um período muito intenso, em que a gente se via todo dia, viajava junto, a maior parte do dia era junto, fazendo muita coisa, compondo, gravando, tocando, registrando. Então ficou muito marcado em nós essa fase, esses sete anos (no Toque no Altar e Trazendo a Arca).” Davi conta que sempre existia uma sensação de que em algum momento eles tocariam juntos novamente. Com agendas corridas, os encontros nesses dez anos longe do Trazendo a Arca acontecia sempre de forma casual, em aeroportos. “Então agora, nessa quarentena que, obrigatoriamente, todo mundo teve que ficar em casa, interromper as suas agendas, a gente viu assim o momento ideal pra fazer isso. Não só pela nossa disponibilidade de estar em casa, mas também para poder proporcionar às pessoas de um modo geral, que estavam em casa, esse encontro que era tão pedido pelo nosso público”, explica o músico, que também contou com a ajuda dos fãs para montar o repertório da live, onde tocaram mais de 30 músicas. “De um modo geral, a gente tentou fazer as canções mais conhecidas, as mais pedidas pelo pessoal e as que ficaram mais bem gravadas também, a gente tentou usar esses critérios pra escolher estas 15.” Sem tocar juntos há dez anos, e com todas as restrições sociais causadas pela pandemia do novo coronavírus, Davi Sacer e os integrantes do Trazendo a Arca não conseguiram ensaiar antes da apresentação que gerou o álbum “O Encontro”. “Então imagina, dez anos sem tocar juntos, a gente perde completamente o entrosamento. Na minha carreira solo toco essas músicas com um outro arranjo, então a gente entendeu que essa era uma grande dificuldade nossa, mas a gente preferiu arriscar e fazer a coisa sem ensaio”, relembra Davi, que ficou feliz com o resultado. “Por se tratar de uma live sem ensaio, por ser uma gravação sem ensaio, acho que foi muito bom, mas a gente tava com aquele temor no coração de acontecer muitos erros e acabar atrapalhando a gravação.” Se depender de Davi Sacer, essa reunião do Trazendo a Arca não ficará restrita ao álbum “O Encontro”: “Pelo sucesso da live e pela receptividade das pessoas com as nossas músicas antigas, seria um grande prazer a gente poder bolar aí, quem sabe, uma turnê passando pelo Brasil novamente com a formação original do Trazendo a Arca”. Abaixo, Davi Sacer comenta cada uma das faixas do álbum: “Aleluia, Hosana” “Esta música foi uma das primeiras músicas que a gente fez na época lá da igreja, do Ministério Apascentar de Nova Iguaçu, quando a gente não era ainda Toque no Altar. A gente era só um ministério de louvor de uma igreja que iria gravar um álbum e eu entendia que o álbum precisava ter nuances diferentes, ter músicas mais rápidas, músicas mais lentas e sempre começando por músicas mais rápidas. Eu dava aula numa escola de música nessa época, aula de canto, e cheguei lá uma manhã bem incomodado, falei, ‘cara, precisa ter uma música que seja uma música meio termo, que ela não seja uma música nem tão rápida nem tão lenta para o CD’, achava que faltava isso. Aí peguei um violão e conversei com o pessoal da escola de música. Na mesma hora em que pensei que precisava ter um tipo de música assim, já veio a ideia desta música. Acabei fazendo esta música pensando no primeiro CD que a gente gravou no Toque no Altar, e esta música acabou sendo uma das que perpetuaram no nosso ministério, uma música bem aceita, esta música é uma composição minha.” “Trazendo a Arca” “Esta música já mostra uma outra característica nossa de compor em equipe, que era uma coisa muito comum para a gente. Compor em parceria de dois, três ou até quatro pessoas, era uma coisa que a gente fazia muito. As músicas nossas do Toque no Altar têm muita essa característica, e a gente tava falando, sempre conversando sobre a escolha do repertório e como fazer um repertório para que o álbum ficasse completo assim, e veio a ideia do começo desta música. A gente achou demais essa ideia e falamos, ‘pô, vamos botar essa música pra cima, uma música mais contagiante, mais pra cima’. Depois de algumas horas conversando e compondo, esta música saiu. Esta música tem quatro compositores, é minha, do Luiz Arcanjo, do Deco Rodrigues e do Ronald Fonseca. Ela é do álbum ‘Olha pra Mim’ (2006). Logo depois que a gente gravou o álbum ‘Olha pra Mim’, a gente saiu do Toque no Altar e começou o Trazendo a Arca, ficou naquilo ali, ‘ah, qual vai ser o nome do grupo agora que a gente saiu do Toque no Altar? Como é que a gente vai se chamar?’. Rolaram muitos nomes e aí lembramos desta música, deste título da música, achamos que era uma boa colocar o nome do ministério igual ao título da música.” “O Chão Vai Tremer” “Esta música é interessante, porque o Luiz Arcanjo chegou com a ideia dela para mim e falou, ‘cara, tô com a ideia de uma música aqui, mas ela é meio diferente’. A letra é diferente do conceito para aquele momento da música nas igrejas. Aí ele sentou, compartilhou a ideia e acabei o ajudando. A gente compôs esta música juntos. Mas ficamos com medo de cantar esta canção, não com medo, mas com receio, porque, cara, não sei se a galera vai entender ‘O Chão Vai Tremer’. Hoje em dia é até fácil a aceitação, mas a linguagem que ela usava para a época era uma linguagem que não era muito usual para uma música daquele estilo, mas a gente resolveu fazer assim mesmo. Lembro que a primeira vez que a gente cantou esta música na igreja um dos pastores da igreja, não o pastor principal, mas um dos pastores chegou para a gente e falou, ‘cara, esta musica é muito ruim. É a pior música que vocês já fizeram nesse tempo’ (risos). A gente insistiu nela, e acabou que ela é uma música que até hoje a gente canta, virou uma das nossas maiores músicas rápidas.” “Invoca-Me” “Eu amo esta música. Não tenho participação nela, na composição, é uma música do Luiz Arcanjo, do Ronald Fonseca e do Kleber Lucas, um dia eles se encontraram e fizeram esta música. Mas acho que esta música não é uma das mais famosas, mas é uma das que mais gosto, talvez pelo tempo em que a gente tá vivendo. Eu estava fazendo lives quase que diárias no meu Instagram e sempre cantava esta música, porque esta música é bíblica e ela fala na perspectiva de Deus. Deus tá falando para alguém nesta canção, ‘invoca-me e eu te responderei’. Ele tá falando, ‘põe a tua fé em meu nome, pode me clamar, pode falar comigo, pode me pedir que estou ouvindo a sua oração e no tempo certo vou atender’. Acho que isso traz um pouco de esperança neste tempo em que a gente tá vivendo, de pandemia, e esse alento, esse conforto no coração, e o ritmo dela é gostoso. Bem, sou um grande fã desta música, mesmo ela não tendo sido uma composição minha, mas era do nosso grupo, e ela é muito especial para mim, para este tempo agora.” “Serás Sempre Deus” “Essa música acho que é do Arcanjo e do Ronald, se eu não me engano. A gente como cristão, às vezes isso é uma crítica que a gente se faz como evangélico que somos, de que às vezes a gente quer mostrar para as pessoas um Deus que vai solucionar todos os problemas dela instantaneamente, na hora que ela quiser e que vai sempre dizer, ‘sim, eu vou fazer’. A gente, no caso eu e as pessoas que convivem comigo no meio evangélico, de vez em quando temos essa tentação de tentar tranquilizar a pessoa dizendo que Deus vai resolver todos os problemas dela, mas nem sempre é assim. Esta canção diz que às vezes ele diz sim, às vezes ele diz não. Assim como às vezes tá sol e às vezes o dia tá nublado, mas em todos esses momentos, quando ele faz ou quando ele não faz, quando ele diz sim ou quando ele diz não, ele está apenas tentando nos mostrar que confiar nele é mais importante do que ter uma resposta imediata. Porque em todos os momentos, até quando a gente tá recebendo um silêncio, tá vivendo um silêncio de Deus, até nesse momento ele tá agindo, ele tá trabalhando. Às vezes uma derrota tem um saldo positivo no futuro, muito maior do que uma vitória. Às vezes as vitórias elas escondem, maquiam demais a situação. Quando você toma um não, quando você sofre um revés, isso faz você parar para pensar melhor sobre as suas versões, as suas motivações. Então esta é uma canção muito forte para mim nesse sentido, de que ela fala mesmo quando ele diz sim ou quando ele diz não, ele sempre vai ser Deus. Ele vai estar sempre cuidando de mim. Então para mim esta é uma canção bacana, bem forte.” “Mais” “Esta música é uma das mais antigas. Ela é minha e do Arcanjo também, daquele momento nosso no Toque no Altar, em que as nossas músicas começaram a acontecer, começaram a ser tocadas no Brasil todo e os convites começaram a explodir, começaram a chover convites de tudo quanto é lugar do Brasil, fora do Brasil. As pessoas vinham do Brasil todo para ir lá na igreja e ver o que que tava acontecendo ali em Nova Iguaçu. O que era aquilo que as pessoas estavam ouvindo naqueles CDs e tudo mais. E aí surgiu uma preocupação no nosso coração, sobretudo no meu coração e no coração do Arcanjo. A gente conversava muito sobre tudo. Uma preocupação de que aquilo não tirasse de nós a essência, de que aquilo não nos cegasse. Porque o sucesso tem esse encantamento às vezes, de turvar o nosso entendimento, de fazer a gente até se perder. É muita tentação, é muito holofote, é muito brilho. Agora a gente tá calejado, mas o primeiro momento de alguém que faz sucesso é um momento em que a gente só é alcançado pelos elogios. Depois que passa um tempo, começam a chegar as críticas também. Então é uma outra coisa a qual a gente precisa se adaptar, mas aquele primeiro momento ali é um momento só de elogios, porque ninguém conhece você, então todo mundo tá achando maravilhoso aquilo que tá acontecendo. Então essa chuva de elogios pode te embriagar, ela pode te entorpecer. Tem um versículo na Bíblia, lá em Provérbios, que fala que o coração do homem é provado pelos louvores que recebe, pelos elogios que recebe. A gente não tá sendo provado quando a gente tá passando por uma dificuldade, a gente tá sendo provado quando a gente tá passando por um momento muito bom, em que você tá tendo muitos elogios, em que você tá começando a mudar a sua vida financeira, em que as pessoas tão falando só bem de você. Nessa hora, como que a gente reage a isso? Como que o nosso coração vai lidar com esses elogios? Com a fama e com dinheiro? Então era uma preocupação no nosso coração. Um dia, antes de um culto, a gente estava lá conversando sobre isso e chegamos a chorar, e a falar, ‘Deus, não deixa a gente se perder no meio disso tudo, achar que a gente tá perto do Senhor fazendo alguma coisa para ti, mas já tendo o nosso coração distante’. Então essa percepção, essa preocupação nossa, acabou gerando esta canção que é uma das canções que tenho certeza de que vou cantar para o resto da minha vida.” “Senhor e Rei” “Esta música tem uma história muito interessante, porque ela é uma canção que também foi feita por quatro pessoas: eu, Luiz Arcanjo, Ronald Fonseca e o Deco Rodrigues. Quando a gente ouviu esta melodia, não tinha letra ainda, quem mostrou foi o Ronald. Eu falei, ‘cara, esta melodia me sugere a gente elogiar Deus assim, pelo que ele é e pelo que ele fez’. Então a gente começou a pensar nisso. Ela é uma música de elogio a Deus, não é uma música pedindo nada para Deus, é simplesmente elogiar Deus. E fizemos esta música, gravamos, e uma vez cantando lá na igreja, não sei se foi num domingo de manhã ou se foi numa quinta-feira à noite, não me lembro, mas tava meio que cantando esta música com a igreja, e a igreja muito envolvida com a música e, de repente, sobe no altar uma família se abraçando e chorando muito. Mas assim, ninguém pediu para ninguém ir à frente, eles saíram do lugar ali, vieram para a frente se abraçaram chorando alto ali, subiram no altar, no palco da igreja e a gente ali meio sem entender nada. Aí chegou um colaborador para tentar ajudar, para ver o que tava acontecendo, se eles precisavam de alguma ajuda e tudo mais. E aí eles relataram, ‘não, a gente tá chorando aqui, agradecendo a Deus’. Porque no meio do louvor, desta música, uma das pessoas da família, agora não lembro se era o pai ou um dos filhos, não sei, era cego, cara, era cego, e no meio da música começou a enxergar, começou a ver, entende? E sem nenhuma forçação de barra, sem que ninguém fosse lá orar pela pessoa, sem que a pessoa viesse pedindo uma oração, uma cura, não, ninguém tava pedindo por isso e nem esperando nada. A gente tava apenas elogiando Deus com esta canção, e aconteceu um milagre que foi testemunhado pela família, a família que disse assim. A gente não conhecia a pessoa, a gente não sabia se a pessoa era cega ou se não era, mas a família tava ali chorando e dizendo, ‘pô, era cega, a pessoa era cega e começou a ver ali do nada’. Então, sempre que a gente canta esta música ela nos marca por causa dessa história, com essa família, que para nós foi muito emocionante.” “Sobre as Águas” “Esta é muito nossa, que reflete muito o nosso jeito de transmitir uma mensagem através de uma música e fez muito sucesso. Até hoje a gente canta ela o tempo todo, a gente acha esta música muito forte. Ela surgiu num desses nossos encontros para compor, alguém lá do nosso grupo de composição falou, ‘cara, li um texto na Bíblia’...era uma Bíblia com uma versão diferente e chamou a atenção dessa pessoa a forma como tava escrita, de uma maneira diferente. Não lembro nem qual era o versículo, mas o versículo dizia exatamente isto: ‘Se o mar me submergir, a tua mão me traz à tona para respirar’. E aí, ficou tão diferente que, a gente que conhece a Bíblia, que já tá na igreja desde pequeno, nunca tinha lido esse versículo com essa versão, com essa tradução. E chamou tanto a nossa atenção que alguém falou, ‘cara, precisa sair uma música disso’. Então a gente começou a conversar sobre isso, sobre o mar, sobre submergir, lembramos da história de Jesus andando sobre as águas e Pedro indo até ele, Pedro afunda no meio do caminho e Jesus o levanta. Lembramos das histórias bíblicas que tinham a ver com esse versículo e fizemos esta música, que é uma das que mais amo, porque ela me dá a oportunidade de ministrar palavras no meio, que tornam a música ainda mais forte. Por exemplo, em muitos momentos que canto esta música, eu me refiro a esse texto em que Jesus vem andando sobre as águas e Pedro vai até ele, começa a afundar e Jesus levanta Pedro. Eu cito esse versículo para tentar contextualizar com alguma adversidade que alguém esteja vivendo no momento, dizendo que quando Jesus veio andando sobre as águas, ele permite que Pedro venha andando sobre as águas também, ao encontro dele. No primeiro momento ele não acalma a tempestade nem para ele vir andando sobre as águas nem pra ele chamar Pedro para andar sobre as águas. Eu digo, ‘olha, é possível a gente continuar caminhando ainda que a tempestade não tenha cessado, o que a gente não pode, por causa das tempestades da vida, é parar com a nossa vida, parar de fazer o que a gente faz, parar de crescer, de avançar, de produzir’. Esse texto mostra que é possível a gente continuar caminhando, apesar das tempestades. Porque esse mesmo texto fala que Pedro começa a afundar e chama por Jesus, e Jesus segura Pedro. Eu falo que Jesus vai estar sempre disposto a segurar a tua mão e te levantar nas tempestades da vida. Então esta canção me emociona muito e tenho muito prazer em cantá-la. Porque sempre encontro nela uma oportunidade de também poder tocar o coração das pessoas.” “Não Vou Desistir” “Esta música eu estava num hotel com o Arcanjo, a gente foi cantar em algum lugar, não lembro agora em que lugar do Brasil a gente tava, mas tava com um violão lá no hotel. A gente tinha um negócio antigamente, uma brincadeira que a gente fazia, porque começamos a perceber que a grande maioria das composições que fizemos juntos foi numa quarta-feira. Não sei porque cargas d'águas, sem perceber, às quartas-feiras a gente sempre tava pensando em fazer uma música e fazia uma música. Nesse dia, lá no hotel, era uma quarta-feira e falei, ‘cara, é quarta-feira, a gente tem que fazer uma música hoje’, brincando (risos). E aí começamos a pensar sobre uma história da Bíblia que fala de uma mulher que tinha uma hemorragia, supostamente ela começou a ter seu ciclo menstrual com 12 anos e nunca mais parou de sangrar, a história bíblica é essa. Até que um dia Jesus tá passando perto da casa dela, ela vai até o encontro dele e toca nas vestes de Jesus, e na mesma hora aquela hemorragia estanca. Mas a história diz que ela tentou muitas coisas, ela tentou todos os médicos, gastou todo o dinheiro. Então a gente começou a pensar nas razões que aquela mulher tinha para ter desistido. O tempo da enfermidade, as frustrações, de ter tentado tudo e não ter conseguido resultado algum, mas ela mostra que quando ela vai até Jesus, para tocar nele, apesar de ter muitos motivos reais para desistir, ela não desistiu, né? Ela poderia ter desistido, mas ela não desistiu. Então esta música diz exatamente isto, ela fala de todos os motivos que a mulher tinha para desistir, de uma forma subjetiva. E o refrão diz isso, ‘eu decidi que não vou desistir’. Então, acho que isso também toca muito as pessoas. Quem de nós não se frustra muitas vezes tentando muitas coisas? Mas o segredo do sucesso de alguém, sobretudo, é ele não desistir, mesmo depois de muitas tentativas frustradas. A mensagem deste texto, desta música, é essa. Decida não desistir, mesmo que você tenha muitas frustrações, muitas tentativas frustradas, não desista, porque em algum momento você vai ter êxito, você vai ter sucesso.” “Leva-me Além” “Esta música é do Ronald Fonseca, que era o tecladista da banda, e que também fazia os arranjos das nossas músicas na época do primeiro álbum, cujo título era ‘Toque no Altar’. Então o Ronald chegou com esta música. Ele chegou, ‘cara, fiz esta canção aqui, acho que ela pode fazer parte do álbum, completar o álbum’. Quando ele a cantou ali para nós, a gente percebeu que esta música refletia muito o que a gente acreditava também, sobre o nosso relacionamento com Deus e o que a nossa igreja local estava vivendo. Desde que a gente cantou esta música pela primeira vez na igreja, a gente percebeu como existe um anseio no coração das pessoas de ir além na presença de Deus. ‘Deus me leva além, me leva para um lugar que eu não conheço ainda, me leva a te conhecer de um jeito que não te conheço ainda, num nível mais profundo’. Então, ela acabou se tornando uma das músicas mais emblemáticas também do nosso ministério.” “Lembra Senhor” “Ah, cara, esta música… sou apaixonado por ela. Ela é minha, do Arcanjo e acho que do Deco Rodrigues. É o mesmo um tipo de questionamento, de ponderação, que fiz numa música dessas que já falei, sobre a gente conscientizar as pessoas de que o relacionamento com Deus não é um relacionamento de simplesmente pedir e ser atendido. De todo momento estar vivendo aquele mar de rosas, porque a vida não é assim. Esta música diz algo que às vezes até entra em conflito com a mensagem que nós evangélicos pregamos, porque ela diz: ‘Quando não posso te ouvir e o meu clamor já não muda o teu silêncio’. Então, assim, isso é até conflitante com outras canções que a gente já fez, mas a gente entende que dá para conviver com todas essas mensagens. A música ‘Restitui’, por exemplo, diz, ‘clame, porque se você clamar, Deus vai te ouvir’, entende?’. E esta canção a gente tá dizendo, às vezes o nosso clamor não muda o silêncio de Deus, parece que não interfere em nada, e a gente tá falando, tá clamando… Mas aí nesta música a gente tenta dizer que esse clamar e não ser atendido, e não ser ouvido, pode ser comparado com, por exemplo, eu tô aqui na varanda da minha casa, na Barra (da Tijuca), e tá nublado aqui agora. Tá bem nublado aqui na Barra agora, mas ainda que eu não esteja vendo, sei que tem sol por cima dessa montoeira de nuvens. Tem um sol que tá brilhando ainda, o dia ainda não baixou, tem o sol aqui. Eu acredito no sol inclusive quando ele não brilha, inclusive quando não vejo o sol e esta canção diz exatamente isso. Você clamar e não obter resposta, são nuvens que escondem o sol, mas mesmo não sendo ouvido, precisa crer no que diz a palavra. A gente que vive nesse contexto de cristianismo o tempo inteiro, que é o nosso ministério e a nossa carreira, a gente acredita muito que a Bíblia é um parâmetro para qualquer coisa que não consiga entender. Então a Bíblia me diz que Deus vai me amar o tempo todo, Deus está comigo o tempo todo, ainda que eu não perceba. Ainda que às vezes ele esteja em silêncio, ele está comigo o tempo todo. Então, nessa hora que clamo e ele não me responde, e não percebo nenhum sinal de que ele está perto, a única coisa que preciso fazer é crer que ele está, ainda que não esteja sentindo, preciso crer, porque a Bíblia diz que ele vai estar presente comigo. Então, esta música envolve todos esses fatores, e a gente acabou a compondo dizendo isso, sabe? Tipo assim, ‘Deus, aqui na tua palavra tá dizendo que o Senhor jurou seu amor por nós, então lembra dessa jura de amor por nós e nos responde, nos atende nessa hora. Faz notório aquilo que está escrito na tua palavra’. Então é mais ou menos isso o que tá escrito nesta música e é uma música que reflete muito a minha vivência, porque às vezes entendo uma direção de Deus e outras tantas vezes não consigo compreender, parece que está tudo em silêncio, que está tudo bloqueado. Mas ainda assim continuo crendo.” “Caminho de Milagres” “Esta, na verdade, surgiu por causa da Aline Barros. Aline Barros queria compor uma música conosco, naquela época em que as nossas músicas, todas as que a gente estava gravando, estavam fazendo sucesso, Aí Aline falou, ‘poxa, eu tô com uma pregação que o meu pastor fez na cabeça e queria me encontrar com vocês, para a gente tentar compor uma música juntos em cima disso que tá na minha cabeça aqui’. ‘Tudo bem, dá um pulinho aqui’. Nessa época, todo mundo morava em Nova Iguaçu e Aline foi lá com o esposo dela, Gilmar, no nosso estúdio onde a gente sempre gravava. E ela falou, ‘meu pastor pregou no domingo agora uma palavra e o título dessa palavra era Caminho de Milagres, e esse título ficou muito marcado na minha mente, no meu coração, e eu queria tentar fazer uma música com esse título’. Aí a gente parou e falou, ‘então vamos tentar algo sobre isso, caminho de milagres, o que é isso, o que a Bíblia tá dizendo sobre isso, vamos tentar discorrer sobre esse assunto’. Milagre é uma coisa que não acontece todo tempo, milagre é uma coisa em que, aliás, nem todo mundo acredita. Nós, os mais cristãos, acreditamos nessa coisa de milagre. Mas, em suma, milagre é uma coisa impossível de acontecer, naturalmente falando, e que de repente acontece. Então caminho de milagre não é um caminho comum, não é um caminho natural, ele não é um caminho que quem abriu foi a gente, a gente acredita que o caminho de milagre é um negócio aberto por Deus, num momento em que nenhuma possibilidade humana enxerga saída. Pensando sobre isso a gente começou a compor e fizemos esta música para Aline. Eu lembro que falei com a Aline e com o Gilmar, ‘olha, a gente vai cantar esta música domingo na igreja e, pela reação da igreja, vou saber se a música pode ser gravada com tranquilidade’. Porque geralmente a gente cantava na igreja e a reação da igreja nos motivava a gravar a música. Então, ministrei esta música na igreja. Depois que acabou o culto, liguei pra Aline e falei, ‘Aline, pode gravar, porque deu certo aqui na igreja, a igreja veio junto, a igreja entendeu a música’. E ela gravou, acho que foi o título até de um dos CDs da Aline, e aí num álbum seguinte a gente também acabou gravando esta música.” “Abro Mão” Esta é das antigas e das mais emblemáticas do nosso ministério, esta música é do Luiz Arcanjo. A história dela é o seguinte: a gente tava numa campanha ali na igreja, a gente tinha se proposto, a igreja toda, a fazer sete dias de encontro ali na igreja, todos os dias de manhã, às sete da manhã, para um período de oração. Se por acaso alguém, nesse período de sete dias, não estivesse trabalhando, isso foi numa época de férias, inclusive, então se não estivesse estudando, a pessoa poderia ficar na igreja o dia inteiro, se quisesse, e a noite tinha o culto. Então, todo dia tinha culto, foi durante esses sete dias. Lembro que também a gente propôs para quem quisesse, para quem achasse que fosse necessário, fazer um jejum também nesses sete dias. De forma que, muita gente, naquele período ali, quase que acampou na igreja naqueles sete dias. Lembro que num desses sete dias, fiquei a madrugada também lá com uma galera sentada no chão da igreja, com violão na mão, cantando, adorando a Deus. Aí de manhã bem cedo, o Luiz Arcanjo chegou e falou, ‘cara, nessa noite eu não consegui dormir, vocês estavam aqui e eu tava em casa e não consegui dormir. Fui fazer o meu período com Deus, de madrugada, com meu violão e Deus me deu, de madrugada, esta letra Em cinco minutos fiz esta música aqui’. Então, quando ele mostrou esta música lá na rodinha, lembro de que ele tava sentando no chão da igreja, numa rodinha com o violão, e cantou esta música. Ela já foi muito forte para a gente que estava ali nessa rodinha, porque ela é uma canção de renúncia, de entrega, muito forte assim. E a gente não tinha dúvidas de que esta música também tocaria o coração de muitas pessoas que às vezes tão naquela dúvida ‘como me entrego para Deus, será que preciso me entregar? A que ponto? Qual é o sinal?’. Esta música talvez tenha sido o sinal para muitas pessoas tomarem as decisões para se entregarem um pouco mais para Deus, de abrir mão de alguma coisa que talvez estivesse as impedindo de ter um relacionamento com Deus mais íntimo assim. A gente cantou esta música na igreja, e logo depois eu sabia que ela deveria ser gravada.” “Entre a Fé e a Razão” “Esta música é uma das mais novas do Trazendo a Arca. Ela foi feita depois da minha saída. Depois que saí do Trazendo a Arca eles lançaram o CD ‘Entre a Fé a Razão’. Esta é uma música do Arcanjo e do Ronald. Ela é baseada na história de Abraão com Isaque. É uma história bíblica muito conhecida, em que Deus pede para Abraão sacrificar o único filho dele, que é Isaque. Em obediência, ele vai atender o pedido de Deus, que queria só uma prova, Deus não queria que acontecesse nada daquilo, e Deus fala: ‘Não, Abraão, foi só um teste. Entendi que você me teme, que você me obedece’. Mas esta música relata um conflito que existia no coração de Abraão, e um conflito que existia no coração de José. Eu obedeço a Deus ou sigo a razão? A razão é: não tem nenhum sentido matar alguém, ainda mais alguém da minha família, um filho meu de sangue, isso era o que a razão dizia. E a fé dizia, ‘obedece’. Obviamente que é um sentido muito figurado, a gente não pode levar isso ao pé da letra, a gente não pode entender esta canção de uma forma errada, mas trazendo para os nossos dias hoje, a gente em algum momento tem algumas encruzilhadas na vida, sigo o meu coração ou sigo a minha razão, a minha mente? De repente, alguém tá pensando, ‘a minha mente tá dizendo que o mais razoável agora é fazer essa faculdade aqui, porque é o que minha mãe fez, é o que meu pai fez, porque é a profissão da família. Mas o meu coração tá falando pra fazer isso aqui, para entrar por esse outro caminho, para fazer uma outra coisa’. A gente tá sempre em encruzilhadas na vida, a gente tá sempre assim. E nem sempre a fé conflita com a razão, a gente também não quer passar essa mensagem, a gente tá dizendo que em determinados momentos você deve seguir a sua intuição, a sua fé, o seu coração. É importante para você não abolir a fé das suas decisões, mesmo que ela não seja a maioria das suas decisões. Mas em determinados momentos, a gente vai ter que optar pela fé, mesmo que a razão esteja dizendo completamente diferente. Eu tenho uma experiência minha, pessoal. Lembro de quando tinha 17 anos, tava terminando o meu segundo grau, no meio do terceiro ano do segundo grau, eu não tinha ideia do que queria para a minha vida até então. Naquele momento, eu estava no grupo dos milhões de adolescentes indecisos quanto ao seu futuro, não sabia o que fazer, mas sabia que tinha que fazer alguma coisa. Isso aí era certo, tinha que fazer alguma coisa, fazer uma faculdade, terminar o meu segundo grau. Só que no meio do ano que estava finalizando o terceiro ano do segundo grau, entrou em mim uma certeza muito grande de que eu deveria começar a trabalhar como missionário. Dedicar a minha vida integralmente ao trabalho missionário, que era uma missão que eu participava na época que se chamava Jocum, Jovens Com Uma Missão, onde a gente trabalhava integralmente nessa missão evangelizando as favelas do Rio de Janeiro, morando lá, evangelizando ali dentro, construindo creches como a gente fez no Morro do Borel e do Morro Dona Marta. Senti um negócio no meu coração tão forte para fazer aquilo, que abandonei a escola. A razão fala, ‘é loucura você ter feito isso, né?’. Abandonei a escola por um fogo que estava ardendo dentro de mim, que era incontrolável. Eu precisava atender o que tava ardendo dentro do meu coração, que era trabalhar podendo ajudar as pessoas ali. Cheguei para os meus pais e falei, ‘queria a liberação de vocês para sair da escola, para sair de casa, e para viver essa experiência missionária de poder ajudar pessoas nesses lugares’. Expliquei para os meus pais como era a situação e que eu tinha que sair de casa realmente, e os meus pais, por incrível que pareça, eles entenderam, eles aceitaram. Então, era um momento em que precisava fazer uma opção, e a razão dizia, ‘termina seus estudos, faltam só seis meses, faz uma faculdade, depois que você fizer uma faculdade, você pode fazer essa sua ação missionária’. Só que no meu coração estava dizendo ‘tem que ser agora’. Acabei optando por aquilo que tava no meu coração e não me arrependo. Foi fundamental eu ter tomado aquela decisão ali, naquele momento.” “Marca da Promessa” “Esta é uma música diferente, porque ela tem duas versões. Ela tem uma versão rápida e uma versão lenta, e as duas versões fizeram muito sucesso. Lembro de que a gente foi compor esta música e pensamos, ‘cara, precisamos de uma música rápida para esse CD. Não tem uma música rápida ainda assim’. Já tinha, mas a gente achava que precisava de uma outra, tava faltando. A gente ficou ali quebrando a cabeça durante horas, tentando fazer uma música e não saía nada. Ai o Ronald falou, ‘tenho que sair, não vou poder ficar com vocês aqui, tentem fazer vocês aí, não tenho mais tempo para ficar aqui’. Aí ele saiu, quando deu uns cinco minutinhos ele ligou, tava no carro, ligou do celular dele e falou, “saí daqui pensando nessa composição e me veio a ideia de um refrão’. E ele cantou o refrão inteiro desta música, ‘Marca da Promessa’: ‘O meu Deus nunca falhará. Eu sei que chegará minha vez. Minha sorte ele mudará. Diante dos meus olhos’. Ele cantou esse refrão e falou, ‘vê se vocês conseguem fazer alguma coisa a partir disso’. A gente falou, ‘Lógico que dá pra fazer, é um bom refrão e tudo mais’. A gente teve que sair do estúdio e foi pra casa do Luiz, fomos tentar terminar esta música na casa do Luiz. Chegamos à casa do Luiz, ele tinha esquecido de que tava no meio de uma mudança, tava saindo de uma casa e indo para um apartamento. Tava tudo bagunçado na casa dele, a mulher dele reclamando que ele não tava lá para ajudar, uma confusão, e ele falou, ‘aqui não vai ser o lugar para gente terminar esta música, não’. Não tinha nenhum outro lugar para a gente ir, e a gente foi para uma praça que tem em Nova Iguaçu, que á praça do skate. A gente sentou lá no banco da praça, lembro de que tinha gente jogando futebol, tinha gente de skate, casalzinho namorando, pessoal que tava saindo da escola. E ali na praça também não era o ambiente mais calmo para a gente fazer uma música, mas a gente falou, ‘é o único lugar’. Aí pedimos uma caneta e um papel para um estudante que estava lá, ele nos deu, e a gente terminou, fizemos quase que toda esta música no meio de uma praça, cheia de gente fazendo coisas completamente diferentes. Não dava nem para se concentrar direito. Mas, assim, a gente ficou naquilo que a gente queria fazer, com o violão na mão, mesmo com a galera perto da gente sem entender nada, a gente fez esta música. A gente cantou ela na igreja e foi sucesso imediato na igreja também. Até que um dia a gente terminou de tocá-la rápida, ela era uma música rápida, e ficou ali no finalzinho da nota dela, naquele ambiente, naquele clima e tudo mais, em mi menor. Aí começamos a cantar esta música lenta. E quando a gente cantou ela lenta, por uma intuição ali do momento, a gente viu que ela ficou com uma outra força. Aí ficamos na dúvida, ‘esta música tá muito top lenta, ficou muito profética, muito viva para as pessoas cantarem de forma lenta, mas a gente fez ela rápida, pensando em ser uma música rápida para o CD’. E foi no meio daquele dilema que a gente decidiu, ‘vamos colocar as duas versões. Coloca a versão lenta e a versão rápida’, e foi isso que a gente fez. No álbum estão as duas versões da música e as duas versões são muito legais.”

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