Início, Meio e Fim

Início, Meio e Fim

Conversar com a banda Hotelo é como participar de um encontro de grandes amigos, que se entendem e se conhecem além do profissional; é como falar com os personagens do seriado Friends, só que na vida real. Formado por Deco Martins (vocal), Conrado Banks (baixo), Julio Petterman (guitarra) e Tito Caviglia (guitarra), o Hotelo existe desde 2012 – e já faz alguns anos que moram todos na mesma casa, fato que ajudou bastante durante a pandemia do coronavírus. “Nos salvou, porque vimos integrantes de várias bandas que não puderam se ver, por causa das restrições, e a gente tem essa sorte de estar sempre junto. Foi maneiro também porque produzimos muito conteúdo, o que rendeu muita coisa”, conta Deco Martins em conversa com o Apple Music. O terceiro álbum do Hotelo, Início, Meio e Fim, chega ainda durante o período de isolamento social, mesmo com o trabalho pronto desde janeiro de 2020. “Quando começou a pandemia, estávamos em processo de mixagem, então a parte presencial já estava toda feita”, diz o vocalista. No entanto Julio Petterman vê como ponto negativo a falta do púbico ao vivo: “Faz muita falta, porque a gente até produz e lança conteúdo para a internet, mas, sem o contato, não sentimos como as músicas estão desempenhando, apesar de que os números não mentem.” Segundo os integrantes da banda, Início, Meio e Fim é um álbum considerado temático, assim como Mapa Astral, lançado em 2018. “Esses lançamentos permitem que as pessoas se identifiquem e, no caso de Início, Meio e Fim, é através dos relacionamentos”, revela Banks. O álbum foi dividido em três EPs, cada um contando partes de uma relação por meio de suas faixas. “Algumas músicas foram adaptadas, mudamos um pouquinho a letra, e já conseguimos encaixar no conceito do álbum – então foi meio uma mistura de tudo, de músicas do zero, músicas que já existiam e músicas que a gente adaptou para encaixar”, conta Tito Caviglia. Para a banda, é preciso ouvir as faixas na ordem proposta para entender a história, além de acompanhar o ciclo dos relacionamentos, algo considerado “atemporal” pelos rapazes. “Muitos se identificarão coma as mensagens”, diz Petterman. O Hotelo foi formado a partir de diversas bandas. Os integrantes se conheciam de shows e festivais que faziam há tempos. Se juntaram em 2012 e, em uma homenagem à casa dos pais de Deco Martins, surgiu o nome Hotelo. “Era como se fosse um hotel, todos os meus amigos passavam por lá para tomar banho, comer...”, conta. O lançamento de Início, Meio e Fim trouxe um sentimento que todos os integrantes têm: “Saudades de shows!”, dizem em uníssono. A seguir, para apaziguar os ânimos, o Hotelo conta detalhes e curiosidades sobre o álbum. Sorte Deco Martins: “‘Sorte’ foi uma música que eu escrevi em Araguaína, no Tocantins, e mandei para os meninos aqui. Eu nem botava fé no som, mas mandei para eles. Conversamos e acabamos falando: ‘vamos lançar essa’, uma coisa meio inédita no Hotelo. Normalmente a gente grava umas músicas mais antigas, mas essa a gente tinha acabado de fazer, tinha saído do forno mesmo. Eu lembro que na época eu estava até meio ressabiado com esse som, mas o pessoal pirou muito. E que bom que foi assim, porque hoje em dia é o nosso som mais ouvido.” Conrado Banks: “Deu muito certo e eu acho que ela tem um negócio que a gente não sabe explicar muito bem o que é, mas tem alguma coisa ali que chama a atenção, porque a gente vê direto nas redes sociais o pessoal postando essa música. E a escolhemos para ser a primeira do álbum porque ela fala de um encontro mesmo, de você não estar esperando encontrar alguém, e do nada: ‘será que isso foi sorte, foi forte, foi os dois?’. O início de uma paixão que está se desenvolvendo.” Julio Peterman: “Eu acho que, musicalmente, ela tem muito do que é o Hotelo: o pop, o rock e o reggae, que são ritmos que a gente explora nas nossas músicas. Ela é uma música singela e honesta.” Conto As Horas Martins: “Acho que no EP Início, a gente quis trazer essa coisa da harmonia e de ser muito feliz assim, então eu acho que ‘Conto as Horas’ fala muito sobre essa ansiedade de encontrar a pessoa amada, quando você está meio que descobrindo que você está apaixonado e já não vê a hora de encontrar a pessoa. Acho que ela fala muito sobre isso.” Banks: “Acabou de ver a pessoa e já manda uma mensagem: ‘saudade’... Aquela coisa forte do começo.” Tito Caviglia: “E musicalmente ela é muito simples, e muito ‘para cima’, leve, como um começo de relação mesmo; e o refrão é basicamente um coro de gente feliz cantando. Então eu acho que a gente conseguiu trazer esse momento da relação para a música mesmo.” Eu te... Martins: “’Eu te...’ é quando você descobre que ferrou de vez: está apaixonado, não tem o que fazer. Você volta para casa já meio bobo, sorrindo à toa, a pessoa te manda uma mensagem, e você já fica todo feliz. Então acho que ela fala bem sobre isso, sobre o nervosismo que rola no comecinho... E é a primeira vez que você vai falar ‘eu te amo’, e aí você está na dúvida: será que falo? E você fica nessa dúvida, nesse momento intenso. É um marco falar o primeiro ‘eu te amo’ – e na música a gente mete logo um palavrão. Então acho que a onda do som é meio essa, porque ela é fofinha, é uma balada bonitinha, só que ao mesmo tempo ela tem um palavrão, que acho que também é uma onda nossa, do hardcore.” Peterman: “Aliás, a gente tem um clipe dessa música de que gostamos bastante, que é o clipe em animação e que retrata exatamente essa ansiedade. Tem um personagem, o amante bandido, e ele está superapaixonado.” Coladinho Martins: “‘Coladinho’ é um reggae sobre quando você já aceitou que está apaixonado. Tem até um momento na música que fala ‘casa comigo’, vamos ficar juntos para sempre, e é isso. Acho que tem essa coisa da explosão do início, esse ‘ah, meu Deus, que bom que eu encontrei essa pessoa! Então vamos ficar bem colados’.” Banks: “Ela dá dez segundos e já entra o refrão, foi uma música que a gente pensou mais comercialmente até. Estávamos estruturando tudo para gravar e falamos ‘vamos fazer assim, vamos testar’, sei lá, um modelo mais grudento da música. Tanto que a gravadora gostou pra caramba e também falou para apostarmos nela.” Mel Limão Martins: “‘Mel Limão’ é onde começa o EP ‘Meio’, e a gente quis falar sobre quando o relacionamento já está mais maduro, já tem uma confiança muito maior, você já conhece mais a pessoa. Então começa com uma transparência muito grande. É também no meio que começam algumas discussões de relacionamento, mas nessa faixa em si eu acho que é mais sobre o cuidado: a pessoa fica doente, então vou fazer um chá de mel e limão, e ela fala ‘eu assisto até a Grey’s Anatomy com você’. Então tem essa pira na música.” Maior que Nós Martins: “Certa vez a gente foi compor com o Vitor Kley, o Julio e eu, e nesse dia saíram duas músicas – e a gente já saiu do rolê com ‘Maior que Nós’ na cabeça. Quando começamos a ter toda essa pira do álbum, a gente já pensou que ela teria que fazer parte, então chamamos o Kley para participar e ele ficou amarradão. O som também está indo muito bem, a gente o lançou em janeiro, acho, e está indo muito bem nas redes.” Banks: “A música começou com um violãozinho e duas vozes ali, e a gente quis trazer um negócio mais de banda mesmo. Então ela tem uma pegada um pouco mais ácida: tem uma guitarra mais rock e fala sobre ‘a gente estar junto é maior que nós’, nós unidos somos muito maiores do que dois indivíduos.” Caviglia: “Eu acho que é uma coisa do tipo ‘estamos juntos, e talvez tenha dado uma esfriada, mas vamos acreditar’, porque a gente junto é maior, então vamos acreditar.” Peterman: “Vale ressaltar que o Kley é um amigo muito querido nosso, e a gente tinha esse desejo de fazer alguma coisa junto há bastante tempo. Então, quando fizemos essa música, não tinha música melhor para ele cantar do que a que ele mesmo ajudou a compor.” Deixa Ruir Martins: “Já é onde começa a ‘dar um pouco ruim’ no relacionamento. Já começam algumas discussões e tal. Quando eu e o Julinho fizemos essa música, na nossa cabeça era para ser sobre um casal que tinha perdido um bebê, e era o papo do casal sobre como superar isso. Daí, quando pensamos no álbum, essa música caiu como uma luva, mesmo para um relacionamento em geral, porque eu acho que é isso, sabe?” Banks: “A música quase se chamou ‘DR’, mas a gente achou melhor não.” Para Onde Vai Martins: “Essa é a predileta do Conrado e acho que de alguns outros aqui também. Acho que ela tem uma veia bem Charlie Brown Jr., uns sons que a gente ouviu bastante, e uma coisa meio anos 90.” Banks: “Ela me lembra várias coisas. Aliás, a gente colocou no final algo inspirado no Blink 182, que são várias vozes juntas. Não tem muito como fugir das nossas influências. Sobre a composição, a música é sobre uma tentativa de fazer rolar, de manter, mas quando a história já está degringolando. Tem que entender para onde vai esse relacionamento agora.” A Nossa História Martins: “A música anterior é ‘Para Onde Vai’ e essa é ‘A Nossa História’, que é quando começa o fim. A galera pedia umas músicas mais tristes do Hotelo, e acho que a gente aproveitou o Fim para deixar duas tristes registradas, então acho que essa música é bem quando você se liga que acabou a parada, e aí é o sentimento da dor. O mesmo sentimento de jogar fora a escova de dente da pessoa, que é uma coisa muito dolorida, porque você olha para a escova de dente e pensa: ‘será que essa pessoa não vai voltar?’. Então são esses sentimentos doidos que passam na nossa cabeça, quando o fim é uma coisa triste e tal. É isso que quisemos registrar nessa música. Mas ela é esperançosa, como todas as músicas do Hotelo, sempre tem esperança.” Caviglia: “A faixa tem um arranjo mais sentimental, essa é a primeira música que dá essa quebrada.” Banks: “Aliás, a gente até quis colocar essa porque, geralmente o que acontece quando você termina um relacionamento, você fala: ‘dane-se então, estou solteiro, vou para a balada, vou pegar geral e beber todas. Estou bem’. E aí depois você acaba ficando na fossa. Mas a gente quis trazer a fossa primeiro porque a gente acredita que você precisa respeitar esse momento, ficar triste mesmo, curtir o seu momento reflexivo. Digere essa parada dentro de você e aí, aos poucos, você vai aceitando e se liberta mesmo. É mais até uma mensagem nossa do tipo: ‘terminou um relacionamento? Não se engane, preste atenção no que você está sentindo’.” Por um Triz Peterman: “Eu acho que a gente foi muito feliz na composição dessa música, porque ela traz um sentimento muito forte e bem reflexivo para as pessoas, ela traz uma densidade na questão musical. É a música mais diferente que a gente já fez na carreira, eu acho. Também é uma que a gente fez com um pensamento diferente sobre relacionamento. A gente tinha pensado na perda de um ente querido – o Deco estava pensando muito na avó dele, eu pensando muito na minha avó – e adaptamos para o álbum. Mas é legal que as pessoas possam ter interpretações diversas para cada música. Se alguém tiver essa sacada de pensar em entes queridos que se foram, acho que vai emocionar bastante.” Banks: “Esse som é muito doido, porque eu o enxergo muito como um mantra, algo como um ritual. Para mim, esse é o momento em que você está triste e já está aceitando e superando que seu relacionamento acabou e que seja para o bem e que todos fiquem felizes. É o momento de redescobrimento. Então tem tambor pra caramba, tem umas guitarras meio espaciais. Eu acho que é meio uma meditação que a pessoa está fazendo com ela mesma.” Eu Não Preciso de Ninguém Martins: “Acho que o nome já fala por si só: a música fala muito sobre o amor-próprio. Traz uma essência nossa, que é essa coisa meio do reggae, do ska, do rock... Uma coisa meio Sublime.” Banks: “Tem um trombone, que a gente colocava muito nas músicas do começo da carreira, então essa música traz uma raiz ‘hotelística’.” Início, Meio e Fim Martins: “Essa música é a conclusão do álbum inteiro: e leva o título. Fala sobre algo tipo: ‘acabamos, mas está tudo bem, eu ainda te amo, mas de um jeito diferente hoje em dia, mas eu te amo, e torço muito por você, só estou mandando energia boa’.” Banks: “E se inicia esse ciclo de novo, todos têm esse início, meio e fim, tudo é um ciclo. Então, se quiser, pode dar play de novo no álbum, que você vai ver um outro relacionamento e talvez outras coisas façam mais sentido.” Caviglia: “Acho que até em termos de ritmo, você vai ver que a penúltima música dá uma levantada, e a ‘Início, Meio e Fim’ levanta ainda mais o astral. E se você ouvir ‘Sorte’ em seguida, você já vai estar numa transição em que você já começou o álbum de novo, e o ciclo começa de novo, como em um relacionamento.” Peterman: “Sinto que ela sintetiza a mensagem do álbum e também a mensagem da banda: a gente não queria acabar de uma forma triste porque nós somos pessoas felizes, a gente é feliz com as músicas que a gente faz.” Sorte feat. Di Ferrero Martins: “‘Sorte’ é isto: a gente tem um carinho muito grande por ela, e quisemos gravá-la de um jeito um pouco mais leve, lo-fi talvez. Para essa versão, a gente chamou o Di Ferreiro, um cara de quem a gente é muito fã desde as antigas, que topou e veio aqui em casa gravar. A versão ficou bem diferente da original, mas é muito legal também.” Peterman: “É um ‘feat’ que emociona a gente porque o Di é um cara que a gente acompanha desde o começo da carreira – tocava nos mesmos buracos que a gente –, e vimos o crescimento dele. Quando ele chegou aqui em casa, na maior boa vontade, veio e gravou com a gente, ficamos muito emocionados, o cara é gente boa. Viu as mesmas coisas que a gente, hoje está aí num patamar muito grande, mas com a mesma humildade. E a gente gosta muito da voz dele e acha que combinou demais com a música.”

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